Muito tem se falado ultimamente – devido aos protestos que
tomaram conta do país – da qualidade e da redução na tarifa do transporte
público. Em Limeira não podia ser diferente. O prefeito Paulo Hadich (PSB), propôs
um subsídio de até 33% ao sistema (o que pode ultrapassar até 1 milhão por mês)
para que a tarifa seja reduzida em 10 centavos e para que o sistema tenha maior
qualidade.
Mas será que a população de limeira deveria destinar mais de
12 milhões por ano às empresas de ônibus da cidade?
Em primeiro lugar, é preciso pensar que a Limeirense (uma
das duas empresas de Limeira) esta na cidade desde a década de 1960. Portanto,
seria muita ingenuidade acreditar que a empresa esta a quase 50 anos
trabalhando aqui deficitária. Se esta há tanto tempo, é porque dá lucro. Sendo assim,
não se justifica o subsídio por o sistema ser deficitário. É preciso abrir a
caixa preta das planilhas de cálculo.
Outra questão a ser analisada é a gratuidade. O governo
Silvio Félix, numa medida puramente eleitoreira, reduziu a gratuidade de 65
para 60 anos. Esta medida, vai na contramão do que a lógica nos mostra. A
expectativa de vida das pessoas aumenta ano a ano. Para que os sistemas não
quebrem, as pessoas precisam ficar economicamente ativas por mais tempo. Isso
vale pro INSS e também para as gratuidades. Ao invés de baixar para 65 anos, a
gratuidade deveria aumentar para 70 anos e não baixar para 60. Infelizmente os políticos
pensam nos votos e não mexem no que se faz necessário.
Exposto isso, é preciso pensar na qualidade do sistema.
Pregam muito que o sistema não tem qualidade – e como usuário atesto isso! –
mas a impressão que fica é de que as concessionárias são as únicas responsáveis
pela qualidade, o que não é verdade. A maior parte da qualidade no sistema é de
responsabilidade da prefeitura.
O mobiliário urbano (terminal, abrigos nos pontos,
corredores e etc) é de responsabilidade da prefeitura. Faz-se necessário, antes
de praticar o subsídio, atender todas as necessidades que são de responsabilidade
da prefeitura. Indico 4 intervenções no mobiliário de resultado eficiente:
1-) Operação do Terminal Urbano: o terminal urbano de
Limeira é aberto, pois o sistema de integração é feito dentro dos carros. Entretanto,
o terminal urbano gera um fluxo de usuários muito grande. Cada um destes
usuários fazendo a integração dentro dos carros, gera uma lentidão no sistema.
O município deveria operar o Terminal Urbano, fechá-lo, para que os usuários
entrem pela porta de trás e assim agilize o embarque, reduzindo o tempo parado
dentro do terminal.
2-) Abrigos nos pontos: A prefeitura, antes de despejar dinheiro
nas empresas de transporte, deveria implantar coberturas nos pontos de
embarque. Limeira possui quase 1.000 pontos, entretanto, apenas de 60 à 70%
deles são de embarque. O restante – que são os próximos aos pontos finais – são
apenas de desembarque e não necessitam de abrigos.
3-) GPS e controle do fluxo: o sistema, por contrato, deverá
ser monitorado por GPS. Isso possibilitará o controle da frota, dando condições
de se monitorar atrasos e gargalos no sistema. Sendo assim, a prefeitura
deveria montar uma central de monitoramento e implantar telas informativas com
previsões de partidas e chegadas.
4-) Corredores de ônibus: não adianta implantar corredores,
como fez o Silvio Félix, se no final dos corredores existe um gargalo.
Exemplifico: criou-se um corredor de ônibus na rua Tiradentes. Este corredor
não existe na Av. Santa Bárbara e, mesmo que existisse, atravessar a rotatória
da Barroca Funda seria outro gargalo. É preciso que a prefeitura invista em
viadutos para que gargalos do sistema sejam superados. Barroca Funda e Avenida
Laranjeiras são dois exemplos gritantes. Nos horários de pico, ônibus ficam até
15 minutos esperando a travessia. Isso, considerado ida e volta, tira muito
tempo útil de um itinerário.
Além do mobiliário, a prefeitura detém a prerrogativa de
indicar os itinerários. E aí esta um outro problema: medo de mexer com o
comodismo do usuário. Exemplifico: em 2004, ainda no governo Pejon, foi feita a
mudança de linhas diametrais para radiais. Isso obriga o usuário a descer no
terminal para fazer a famosa baldeação. Entretanto, manter a linha no formato
diametral implica em sobreposição de linhas e que implica em sobreposição de
horários. Um exemplo crasso disso são as linhas 107 e 15, que passam na Avenida
Laranjeiras. Do Atacadão ao terminal urbano elas fazem a mesma rota. Só que
essas linhas saem do Atacadão praticamente no mesmo horário. Isso faz com que o
usuário espere muito tempo por um ônibus e quando chega, vem duas linhas ao
mesmo tempo.
Toda a inteligência dos itinerários parte da prefeitura e, portanto, antes de subsidiar o sistema, a prefeitura deveria investir em inteligência.
Toda a inteligência dos itinerários parte da prefeitura e, portanto, antes de subsidiar o sistema, a prefeitura deveria investir em inteligência.
Tudo isto, somados a uma renovação de frota, ar
condicionado, funcionários educados e algumas outras medidas simples, melhorariam
substancialmente o sistema, aumentando o IPK (Índice de Passageiros por
Quilômetro), melhorando o equilíbrio financeiro do sistema.
O subsídio não é um monstro. Ele é fundamental para que o
sistema funcione adequadamente. É até um fator de transferência de renda dos
mais ricos aos mais pobres! O que não se pode admitir é que as empresas de ônibus
recebam subsídios para operar um sistema falho. É preciso que a prefeitura
admita que é responsável pelas falhas, que mexa nos comodismos do usuário, para
que depois seja feito um subsídio ao sistema. Sem isso ficaremos sempre com a
impressão de que há acordos escusos por trás dos planos de Hadich.
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