sábado, 23 de janeiro de 2010

Fatores que causam tragédias


Nos últimos meses estamos sendo castigados por intensas chuvas. Os índices pluviométricos estão acima do normal e com o agravante de que o período de duração das chuvas esta menor. Isso significa que a concentração das águas esta maior.

Este cenário que estamos vivendo hoje é mais propício às tragédias como as de Angra dos Reis, São Luís do Paraitinga e Capivari. O fator natural aliado as interferências do homem na natureza e mais uma pitada de ignorância estão construindo esta cena. O pior esta por vir e as previsões não são nada animadoras.

Aquecimento Global

Independente de quem for a culpa (do homem ou da própria natureza) é fato que a temperatura do globo esta aumentando. Segundo os registros, a temperatura média da Terra aumentou 1°C no último século e as estimativas são de aumento mínimo de 2°C nos próximos 100 anos. Esse aumento na temperatura faz com que a evaporação das águas seja maior. E como diz o velho adágio popular, “tudo que sobe, desce”. Se o volume de água que subir será maior, com certeza o volume que irá descer também será maior.

O aquecimento global também esta derretendo as geleiras nos pólos e nas regiões de baixas temperaturas. Esse derretimento disponibiliza mais água propícia à evaporação. Então voltamos ao item anterior: mais água evaporando, mais chuva.

Saturação do solo

O volume de chuvas maior nos traz outro problema: a saturação do solo. O solo encharcado por uma chuva necessita de ao menos cinco dias de sol para secar completamente. O solo encharcado ou úmido perde a capacidade de absorção das águas e com isso a água escoa pela superfície até encontrar um córrego ou rio.

Quando o solo deixa de ser absorvente o volume de água nos rios se torna maior. E isso faz com que a área de inundação também se torne maior. Locais que antes não sofriam com a inundação passarão a sofrer.

Impermeabilização

A urbanização causa a impermeabilização do solo. Concreto e asfalto vedam por completo o solo que antigamente absorvia as águas. O resultado disso é bem previsível: mais águas nos rios. Além de impermeabilizar o solo, concreto e asfalto aumentam a velocidade da água. A velocidade maior torna a força da água mais destruidora que o normal.

Outro problema da impermeabilização é que ela impede a recarga dos lençóis freáticos o que causa a seca de nascentes e escassez nas épocas de seca. Com isso, enquanto os períodos chuvosos se tornam mais chuvosos, os períodos de seca se tornam mais secos. A Terra vai perdendo seu equilíbrio e os períodos se tornam mais extremos.

Desmatamento e arborização urbana

O desmatamento e a falta de um projeto abrangente de arborização urbana também é um fator decisivo no controle das cheias. Árvores retêm até 50% da chuva, liberando aos poucos a água que cai em sua copa e segurando o aumento da vazão em córregos e nos sistemas de drenagem urbana. Um alívio enorme, principalmente para os grandes centros urbanos, além de todos os outros benefícios que uma arborização bem feita nos proporciona.

Engenharia antiga

Todas essas mudanças no sistema de chuvas não eram previstos na engenharia de alguns anos atrás. Os índices pluviométricos de 30 ou 40 anos atrás já não valem mais pra hoje e hoje temos muitas obras dessas épocas. O caso da ponte que caiu no Rio Grande do Sul é um retrato disso. As águas do rio Jacuí, em Agudo-RS, ultrapassaram o nível da ponte que não foi calculada para suportar este tipo de força.

Em Limeira, na Rua Tiradentes, as galerias já não suportam mais o volume das águas. O trecho compreendido entre a Rua Boa Morte e o viaduto Jânio Quadros, trecho onde a galeria é mais antiga, está constantemente interditado devido ao desmoronamento do pavimento. Isso é causado pela alta pressão da água na galeria que rompe em chuvas mais fortes.


A junção de todos esses fatores, de alguns deles ou de apenas um pode ser a receita para tragédias. A falta de conhecimento sobre onde se deve ou não construir também é decisivo na prevenção das tragédias. A maioria das vítimas poderiam ter sido salvas se não morassem em encostas ou margens de rios.

É preciso repensar, reconstruir, remanejar, reprojetar, e respeitar a natureza. Não podemos é viver na ignorância de achar que não acontecerá com agente. Os avisos estão sendo dados: já foi quase uma centena de vidas perdidas em 2010 devido às chuvas no Brasil. Quando alguém tomará uma providência efetiva?

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