quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Os Bons morrem antes

“É tão estranho, os bons morrem antes...” – Renato Russo

Vítima de AIDS, Renato Russo profetizou a sua própria trajetória no verso acima. Mas não é de Renato que quero falar hoje. Quero falar de dois brasileiros que morreram precocemente na última década, vítimas de causas externas: Sérgio Vieira de Mello e Zilda Arns.

Sérgio Vieira de Mello foi um dos mais notáveis diplomatas brasileiros. Conhecido como o “James Bond brasileiro”, Sérgio serviu por 30 anos no ACNUR (Programa da ONU voltado para refugiados) onde não mediu esforços para impor os preceitos da Organização das Nações Unidas.

Mestre em filosofia pela Universidade de Paris (Sorbonne), Sérgio esteve à frente de mediações de crises extremas como as do Sudão (anos 70), a do Líbano (anos 80), a da Bósnia, Iugoslava e Croácia (anos 90) e por fim no Iraque (anos 2000).

Sérgio era um bom vivant. Mulherengo e viciado em Red Label assumido galgou postos cada vez mais altos dentro da ONU usando de sua simpatia e carisma, típico dos brasileiros. Estas características foram fundamentais nas negociações com governos tiranos, insurgentes, traficantes e qualquer tipo de poder dominante sobre os povos de países em conflitos.

Disparadamente o mais cotado para assumir a secretaria geral da ONU, no lugar de Kofi Annan, Sérgio morreu em um atentado a bomba no QG da ONU no Iraque, no dia 19 de agosto de 2003.

Para conhecer mais sobre a vida deste “herói” brasileiro, sugiro a leitura de sua biografia, um dos mais instigantes livros que já li, intitulada “O Homem que queria salvar o Mundo” de Samantha Power.


Zilda Arns Neumann era médica pediatra e sanitarista. Fundadora da pastoral da criança no Brasil e posteriormente no mundo, Zilda dedicou sua profissão e vida a cuidar de crianças em situação de desnutrição. No Brasil suas idéias e o seu trabalho ajudou a salvar a vida de quase 2 milhões de crianças em situação de risco.

Ganhadora de inúmeros títulos, prêmios e menções, Zilda foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2006.

Apaixonada pela pastoral, Zilda morreu ontem enquanto palestrava sobre o seu trabalho no Haiti, vítima de um terremoto que, segundo estimativas, ceifou a vida de mais de 100 mil pessoas.

Renato Russo tinha absoluta razão. É estranho os bons morrerem antes do que deveriam. Sérgio Vieira de Mello, Zilda Arns, Renato Russo, Ayrton Senna, Betinho, Mamonas Assassinas...

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